sexta-feira, 8 de abril de 2011

Poeia

Uma das principais referências do barroco brasileiro é Gregório de Matos Guerra,
poeta baiano que cultivou com a mesma beleza tanto o estilo cultista quanto o conceptista .Formado em Direito pela universidade de Coimbra,passou parte de sua vida em Portugal e parte no Brasil,vivendo na Bahia.Embora casado pela segunda vez,era boêmio e mulherengo.Criticou tudo e a todos : a incapacidade administrativa dos portugueses e brasileiros bajuladores ; o clero ; a corrupção e o relaxamento de costumes.Irreverente,suas sátiras lhe valeram um exílio temporário em Angola, na África.Voltando,vai morar no Recife,onde morre pouco depois.
Sua obra poética costuma ser dividida em três tipos principais:satírica, lírica, e sacra. Ao que se sabe, Gregório de Matos nunca publicou um livro de seus poemas.As edições atuais baseiam-se em coletâneas feitas,á época,por seus amigos e admiradores.

·         Poesia Satírica:que lhe valeu o expressivo apelido de Boca de inferno. Dono de um ferino senso critico e capacidade de improvisação, a todos ele atinge com seus versos irreverentes e mordazes.Alem de criticar em seus versos fatos injustos ocorridos na Bahia e de  não poupar em sua linguagem crítica a todas as classes da sociedade :administração publica, a justiça, a igreja,o comercio a negros, brancos,mulatos... e amava as mulatas.A poesia sátira faz parte das poesias mais originais de Gregório de Matos(pois fugia dos padrões estabelecidos pelo Barroco Europeu e empregava uma língua portuguesa diversificada cheia de brasileirismo).Por isso pode ser chamada de poesia realista e brasileira.
Neste soneto por exemplo ele “descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia .“

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem freqüente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia

·         A poesia lírica:Gregório de Matos cultivou três vertentes da poesia lírica:a religiosa, a amorosa e a filosófica.
A lírica amorosa é fortemente marcada pelo dualismo amoroso carne/espírito.A mulher,muitas vezes,é a personificação do próprio pecado, da perdição espiritual.Nesses poemas transparece,muitas vezes,o idealismo renascentista.O mundo dos sentimentos e das emoções  é exposto por meio de uma linguagem trabalhada com metáforas, antíteses,hipérboles, trocadilhos.Eis um soneto típico de seu lirismo:
                                                            
Minha rica mulatinha,
desvelo e cuidado meu,
eu já fora todo teu,
e tu foras toda minha;

Juro-te, minha vidinha,
se acaso minha qués ser,
que todo me hei de acender
em ser teu amante fino pois
por ti já perco o tino,
e ando para morrer.
A lírica filosófica: Destacam-se textos que se referem ao desconcerto do mundo e as frustrações humanas diante da realidade. E também poemas em que predomina a consciência da transitoriedade da vida e do tempo. Observe esse exemplo onde o autor moraliza o Poeta nos Ocidentes do Sol a Inconstância dos Bens do Mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.




·         A lírica religiosa:Obedece aos princípios fundamentais do Barroco Europeu,fazendo uso de temas como amor a Deus,além da freqüente duvida entre o pecado e a virtude. O eu-lírico, muitas vezes, se comporta como advogado que faz a própria defesa diante de Deus (para tal, usava, até mesmo, trechos da Bíblia).Observe esse exemplo de arrependimento e reconhecimento do autor ao se dirigir a Deus.

Pequei Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória

·        Poesia sacra :Na qual também revela seu grande talento.Nela predomina a influencia do cristianismo medieval:o homem tem consciência de sua condição de pecador e, e diante de Deus,confessa sua fragilidade e  implora o perdão e a salvação. É famoso dentro dessa temática,o soneto:

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
de vossa alta clemência me despido;
porque quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma orelha perdida e já cobrada,
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história,
eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha a vossa glória.
                                                                Gregório de Mattos

 

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